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sábado, 13 de novembro de 2010

Capítulo 19

HATING YOU
por Little Monster

               - Aaaah, pelo amor de deus, VAI GRIFINÓRIA, VAI! – Wes berrava em plenos pulmões na arquibancada lotada de gente – O QUE É ISSO SEUS PALHAÇOS? O QUE VOCÊS ESTÃO FAZENDO? – o garoto puxava os próprios cabelos, apertando os olhinhos charmosos e castanhos, olhando feio para os batedores da Grifinória – E VOCÊ, WEASLEY? BATE FEITO UMA MULHERZINHA!
                - Por que não vai até lá e acaba com ele?
               Felix estava sentado bem ao lado de Wes, tentando ler um livro sobre feitiços avançados no meio de um jogo de quadribol, enquanto pessoas gritavam até a alma sair do corpo, pulavam, xingavam, batiam, faziam gestos obscenos e elogiavam as mães uns dos outros. Ele mantinha a expressão pacífica e concentrada, como se não houvesse ninguém ao seu lado, nem mesmo um garoto à sua direita, vestido de leão com a boca particularmente suja.
                 - VOCÊ ESTÁ LENDO, FELIX? NO MEIO DO JOGO, VOCÊ ESTÁ LENDO?
                - É só impressão sua, na verdade, isso é um holograma. – Felix sorriu sarcasticamente para ele por trás dos óculos de aro grosso.
                 - O QUE É UM HOLOGRAMA? – Wes esquecera-se de abaixar o volume da voz, ainda gritando por cima das vozes dos outros torcedores vermelho-dourado.
                  - Uma tecnologia trouxa ainda em testes.
                 - E mais um gol para a Corvinal! – A voz de Lino Jordan preencheu o campo – Vamos lá Grifinória! Se eu fosse vocês tentava melhorar o empenho do time, tem um gordinho irado na arquibancada querendo arrancar os miolos dos gêmeos Weasley...
                 - MAIS UM GOL PRA CORVINAL? ONDE ESTÁ VOCÊ, HARRY POTTER? PRA QUE SERVE ESSA PORCARIA DE VASSOURA?
                  Emily Portrait chorava de rir ao lado de Gabrielle, e não disfarçava estar adorando o momento de descontrole de Wes. Felix folheava o livro tranquilamente, franzindo o cenho para o conteúdo de vez em outra.
                 - POR QUE VOCÊ NÃO VAI PRA CORVINAL, FELIX?
                 - Pergunte ao chapéu seletor.
                 - O CHAPÉU SELETOR É UM IDIOTA.
                 - Não Wes, você é um idiota. Agora pare de gritar na minha orelha por favor.
                 Wes não respondeu, porque estava ocupado demais fazendo gestos obscenos para os jogadores, e aparentemente os gêmeos Weasley viram, pois lançaram, ao mesmo tempo, dois grandes e fortes balaços em Wes, que o acertaram em cheio no braço e na barriga.
                  - Aiii... – Ele gemia baixo enquanto se dobrava em dois.
                  - E Fred e Jorge parecem errar os balaços, olha só que coisa! Num torcedor muito empolgado da grifinória, senhoras e senhores! É claro que foi só um acidente... E agora a Professora McGonagall está ameaçando substituir os gêmeos se não se concentrarem no jogo... Ela está muito brava, dizendo para não matarem os torcedores e honrarem Godric Gryffindor. Eu não sei se tem muito a ver, afinal, ele nem jogava quadribol, acho... Mas se servir de incentivo... Agora ela está vindo na minha direção com cara de poucos amigos... Mas não consigo entender o que ela está dizendo, pois minha atenção está sendo desviada pelo Professor Flitwick, que cutuca seu nariz avidamente... Deve ser o nervosismo... Calma professor, seu time está ganhando!
                   A torcida Azul do outro lado do campo vibrava, não só pela vantagem de pontos, mas pelo golpe num torcedor do time adversário. McGonagall tentava tirar o microfone de Lino à força, mas Lino continuava narrando:
                   - E acho que os apanhadores viram a mesma coisa... Vamos lá Potter, mostre para a torcida do que você é capaz... Não está muito longe do pomo... E Potter estende a mão, está quase lá...
                 A tensão em ambos os lados era plausível, a multidão quase se calava por completo.
                  - E Potter tem sua frente cortada pelo apanhador da Corvinal... O que é isso minha gente? Vai Potter! Tudo bem Professora McGonagall, eu vou parar de torcer pra Grifinória! Vai Corvinal, eu sei que vocês são mais do que uns nerds babões, peguem esse pomo de uma vez!
                   O jogo valia a pena mais pela narração de Lino do que pelo quadribol em si, era como Gabrielle pensava, rindo muito dos comentários do garoto. Levantou seu lenço vermelho e dourado da Grifinória e aplaudiu Lino com vontade, recebendo de volta uma piscadela animada.
                   O céu estava cinza, o tempo era horroroso e nevava, mas nada mantinha os alunos fora dos jogos de quadribol entre as casas, era simplesmente divertidíssimo torcer pela sua casa, xingar, gritar, colocar tudo pra fora, se divertir com os comentários importunos de Lino Jordan. Mesmo sentindo o vento em seu rosto, queimando sua pele, não conseguia se incomodar, ignorava a neve, gritava mais alto quando Potter se aproximava do pomo. Que coisa... Com tantos problemas na vida, Harry Potter ainda era um ótimo jogador de quadribol. Gabrielle se perguntou se teria forças, no lugar de Potter, para se preocupar com outras coisas, para se divertir depois de tudo o que passara. Wes não gritava mais, apenas xingava baixo, mais como um murmúrio insolente, fuzilando os Weasley com os olhos conforme acariciava os locais atingidos pelos balaços mal-intencionados dos gêmeos.
                   - Esse jogo não está simplesmente o máximo? – Emily se encostara em Gabrielle para se manter mais aquecida – Achei que Wes fosse ter um derrame...
                   Gabrielle apenas assentia e sorria. Ambas ergueram os rostos para cima e colocaram as línguas para fora, tentando pegar os flocos de neve.
                   - Ei, vocês duas... – Felix tentava se pronunciar acima dos gritos dos outros torcedores enquanto esticava o pescoço fino – vocês sabiam que os flocos de neve...
                    - AGORA NÃO FELIX, AGORA NÃO! – Wes estava de pé com o casaco aberto, revelando o leão da grifinória pintado perfeitamente no peito pelado e gorducho – VAI GRIFINÓRIA, VAI GRIFINÓRIA, VAI GRIFINÓRIA!
                   Fred Weasley apontou Wes para o irmão, e os dois começaram a rir imediatamente, escandalosamente, até chorarem.
                  - E parece que temos um aluno exibicionista na arquibancada da grifinória, senhoras e senhores! Ele exibe seu físico malhado com um belo desenho de um leão! É disso que eu estou falando... Aposto que vocês não superam essa, seus babões!
                   - Já chega, Senhor Jordan, o senhor já passou dos limites! – Era possível ouvir a voz próxima da professora McGonagall, seca e severa.
                   - Mas professora... Eu só estava narrando...
                 E bem nesse momento, a torcida Vermelho e dourado explodiu em gritos extasiados, levantando-se, pulando, abraçando uns aos outros: Potter pegara o pomo.
                   - SENTE ESSE TANQUINHO MEU BEM, SENTE ESSE TANQUINHO! DEPOIS DESSA NÃO TINHA COMO PERDER, TOMA ESSA CORVINAL! APOSTO QUE SEU TIME TODO FICOU INTIMIDADO, HAH?
                   Felix dera um peteleco no nariz de Wes, puxando-o de volta ao banco e fechando seu casaco.
                   - Você está nos envergonhando, arrume essa roupa antes que eu lhe dê um soco bem dado, pelo amor de deus, o que Godric Gryffindor diria se visse essa coisa no seu peito?
                    - Ele diria que eu sou um gato, o que mais poderia dizer?

_________

                    A multidão de alunos se dissipava pelos terrenos do castelo a fim de voltarem para suas salas comunais quentes e aconchegantes. Wes carregava Emily de cavalinho nas costas pelo caminho, enquanto Felix tagarelava à vontade com Gabrielle, discutindo os valores dos quatro fundadores de Hogwarts: um assunto que ambos poderiam ficar horas conversando, pois amavam o tema.
                     - Eu achei uma covardia Slytherin querer se vingar daquele jeito, deixando o pequeno presentinho que foi a câmara secreta, você lembra que horror?
                     - Arght, nem me lembre... A escola toda estava em pânico, todos pensando que iam morrer... Meu deus. Isso só porque o cara não gostava de bruxos que não fossem puros, que besteira.
                    - Pode ser uma besteira pra você, mas se coloque no lugar dele: Árvore genealógica impecável, berço de ouro, alta moral na sociedade bruxa, talentos sobrenaturais como falar com as cobras – mesmo que fosse uma coisa das trevas – digna do sangue sua família. Sem falar na criação dele.
                     - É, tudo bem, mas uma pessoa não deixa de ser boa só porque seus parentes não têm sangue puro. Não deixa de se preocupar com os outros, de ajudar, de ter um bom coração. Muito sangue puro por aí não passa de idiota. – Gabrielle disse enquanto pensava em um certo rapaz Black.
                     - Concordo, visto dessa forma. Mas se Slytherin não fosse assim, talvez não tivéssemos Hogwarts como é hoje.
                      - Sonserina não faria falta.
                      - Pense por outro lado... Se não existisse a Sonserina, quem perderia pra nós no quadribol? – Felix sorria alegremente, o que era uma coisa rara, mas contagiou Gabrielle rapidamente.
                      - A CORVINAL! AHAHAHAHAHA! – Wes ainda ria e saltitava com empolgação levando Emily às suas costas.
                     Gabrielle gargalhou com a resposta, Felix apenas revirou os olhos: a imagem do leão no peito de Wes cintilando em suas córneas.
                    O vento estava cada vez mais forte, então apertaram o passo em direção ao Castelo. Bryan Knight estava encostado na parede que dava para um escuro, pequeno e mal-iluminado corredor externo no meio do caminho, olhando para os lados com nervosismo, como quem teme ser pego fazendo algo de errado. Ele tentava disfarçar, mas quando qualquer aluno que não fosse da Sonserina chegava perto demais, ele se apertava um pouco contra a parede. Olhou para o corredor e, ranzinza, praguejou alguma coisa. Seu rosto se iluminou de repente ao ver os alunos já saindo do jogo de quadribol, e é claro que ao ver Gabrielle passar por ali com seus amigos não o fez afundar na parede.
                     - Ora ora ora... A sabichona resolveu sair de seu mundinho particular onde é a melhor em tudo e resolveu ver um jogo de quadribol? – alfinetou - Por que não volta pro seu lugar sua perdedorazinha ridícula? Juntos com seus amigos babacas, é claro. – ele ria, como se aquilo tivesse sido uma ótima piada.
                      - Noooossa, essa doeu hein Bryan? – ela colocou a mão sobre o peito como se estivesse sofrendo de dores horrorosas no coração – Não quer me matar agora para que eu não tenha que sofrer?
                       - Ei, não fala com a minha amiga desse jeito não! – Wes colocara Emily de volta ao chão e bufava de raiva.
                       Emily soltou um de seus familiares guinchos de indignação e estreitou os olhos para Knight, já deixando a mão pousar em sua varinha, que descansava no cós de sua saia.
                       - Oh que gracinha, ele está todo bravinho... Por que você não corre pra contar pra sua mãe que o titio Knight foi mau com você? Mas uma coisinha pro seu consolo: titio Knight é mau com todos os sangues ruins nojentos desse castelo.
                      - Deixa a gente em paz Knight. – Gabrielle já ia puxando os amigos de volta para o castelo, quando ouviu a voz áspera do garoto assumir um tom mais malicioso do que o usual:
                      - É assim que você faz quando seu namorado não está aqui pra te defender, você foge?
                      - Que namorado? – ela indagou, mas já sabendo a resposta.
                    Bryan riu, atingindo uma nota mais aguda do que pessoas intimidadoras gostariam, e depois de lançar mais um olhar forçadamente despreocupado para o corredor escuro, assumiu o sorriso sarcástico. Gabrielle apertou a varinha por dentro das vestes, sentindo uma onda de raiva esquentar e subir pela espinha.
                     Ambos sacaram as varinhas ao mesmo tempo, mas antes que qualquer um dos dois pudesse lançar algum feitiço, Felix fora mais rápido e lançara em Bryan uma montanha de azarações, fazendo com que seu rosto ficasse cheio de algo parecido com tentáculos de polvo, e pêlos gigantescos a brotar de suas orelhas. Ele tentou revidar, mas se encontrou encurralado na parede por quatro pessoas empunhando-lhe a varinha ferozmente, e sem voz – um tentáculo teimoso parecia gostar da idéia de entrar pela sua garganta abaixo, tapando toda sua boca – se contentou em fazer um gesto obsceno, urrar de raiva e correr escadaria acima.
                     Os amigos se olharam e riram, sentindo o laço de amizade se apertar mais.
                     - Felix... – Wes olhava-o de esguelha
                     - O que é?
                     - Você arrasou.
                     - É, eu sei... – ele retribuiu com uma piscadela
                     Agora Wes sabia porque Felix pertencia à Grifinória.

_________

                     - Tem certeza que está fazendo isso direito, Randall? Você sabe, nós não queremos problemas. – Chuck sorria maliciosamente enquanto olhava para o amigo parado à sua frente.
                       - Tenho sim, a escola toda está assistindo ao jogo agora, e Bryan está vigiando. – ele respondeu rapidamente. – Tudo exatamente como você planejou...
                       - Ótimo, então já podemos começar... Que horas são?
                       - Quatro e meia, calculo que temos aproximadamente uma hora antes de alguém pegar o pomo, o tempo está horrível. – Quem falava era Luther.
                       - Anda logo. – Chuck olhou para um trecho mais escuro do corredor, como se falasse com alguém mais além.
                        - Não acredito que estou fazendo isso cara... – disse uma voz feminina.
                        - É só por uma hora, não seja ridículo. Anda, o babaca é irritantemente pontual, já deve estar lá fora.
                        - Se é tão fácil assim por que você mesmo não faz? – A voz feminina parecia ressentida.
                     - Porque tenho quem o faça por mim, e é aí que você entra.
                    - E se eu não quiser fazer? – ela o desafiou, mas sua voz transbordava insegurança.
                    - Você sabe o que acontece com as pessoas que me deixam na mão, não sabe? – ele chegava mais perto da área sombria do corredor - Agora coloque essas lindas pernas grossas pra fora antes que eu entre aí e dê um jeito em você, só pra te lembrar que a partir de agora você é uma garota.
                  Gabrielle DeLarge saiu das sombras vestindo um uniforme mais curto do que o usual, estava linda, apesar de parecer extremamente irritada e contrariada, e é claro, morrendo de frio, afinal: estava nevando.
                   - Nossa Steve... Você está mesmo uma delicinha.
                   Imediatamente os garotos começaram a rir do amigo, mas Chuck não tinha tempo para diversão agora: Ia pegar aquele idiota, fazê-lo pagar, como só uma boa lição à moda Black podia fazer.
                  - É bom você fazer isso dar certo – ele se aproximara bastante de Steve-momentâneamente-Gabrielle, emanando ameaça em cada sílaba – Eu tive que levar uma detenção de propósito pra poder pegar a poção polissuco da sala do Snape, e mais um pouquinho de trabalho pra conseguir um fio de cabelo dela. Faça valer a pena, douçura.
                   Chuck sorriu. Por um momento Steve pareceu que ia protestar, mas os olhares severos de seus colegas o fizeram mudar de idéia, e então ele foi o mais rápido que pôde para a entrada do corredor, onde seu colega Bryan Knight estaria montando guarda. Não tinha ninguém.
                    - Ué... Cadê ele? – ele suspirou, nervoso.
                 Jimmy estava parado a um metro de distância, e veio imediatamente ao ver Gabrielle parada ali.
                    - E aí...? Acabei de sair do jogo, achei que não daria tempo... Ufa... Mas ainda bem que deu, você está aqui...– Jimmy parecia animado e encantado por ela ao mesmo tempo, mas seus sentimentos doces foram interrompidos - Nossa Gabrielle... O que aconteceu? Não está com frio? – ele deu uma boa olhada no corpo mal-coberto da menina.
                    Steve se recusava a abrir a boca, só queria acabar com aquilo logo, por que Chuck tinha que ser tão específico? "É pra seduzir o garoto, trazê-lo até aqui. Pense como uma garota fácil, e use o corpo, funciona sempre."
                    Estava difícil fazer o que lhe tinha sido mandado, e Jimmy já começara a ficar preocupado.
                    - Amor... V-Você tá bem? – O menino ficava cada vez mais preocupado ao perceber o comportamento esquisito dela. – Anda, veste a minha blusa... O que houve com a sua? – ele dizia enquanto retirava o longo sobretudo preto com o emblema da Corvinal bordado nele.
                    - Não, não estou com frio, obrigada. – Que se dane, ele refletiu vamos lá, agora eu sou uma garota – Só quero conversar com você a sós, meu amor... Preciso te falar uma coisa importante... Jimmy – ela acrescentou para dar um ar mais carinhoso, mas sem muito sucesso.
                   Ele arqueou as sobrancelhas, subitamente pego pela surpresa, e deu de ombros.
                  - Tudo bem, mas se ficar com frio é só me falar meu amor... – ele já sorria meigamente, segurando a mão dela.
                  Por um instante Steve pensou em dar um murro na cara de Jimmy e gritar "Tá me estranhando cara? Meu negócio é outro, tá me achando com cara de maricas, é?". Mas isso não lhe pareceu algo que Gabrielle diria, porque ela gostava de garotos.
                   Então a suposta Gabrielle levou um Jimmy animado até o fim do corredor escuro, e pararam ali um de frente para o outro.
                   - Jimmy... Sabe de uma coisa? Eu queria muito te abraçar agora, estou precisando de um abraço... Minha vida anda meio complicada ultimamente... – ela suspirou dramaticamente, de um jeito que Gabrielle nunca faria.
                   - Quer que eu... Te... Te abrace? – Jimmy estava tenso e inseguro ao mesmo tempo, não entendendo completamente nada do que estava acontecendo – era sobre isso que queria falar quando pediu pra mandarem o recado?
                   - É... É sim. Preciso de alguém pra me confortar nessa fase difícil.
                  Steve era um garoto de muita força de vontade, fez um biquinho meigo e um olhar carente, se aproximando mais de Jimmy, até encostá-lo na parede. Sentiu nojo, mas se arrepiava só de pensar no que Chuck faria com ele se isso desse errado. Então olhou nos olhos do menino à sua frente e sussurrou:
                   - Só que como você sabe, eu sou uma menina inteligente...
                  Jimmy concordou rapidamente com a cabeça, não tirava os olhos dos dela, não sabendo onde colocar as mãos, se sentindo estúpido conforme elas pendiam ao lado de seu corpo.
                  - Então vou pedir pra você não contar isso pra ninguém, ou podemos nos meter num grande problema... – ela sorria maliciosamente, se divertindo com a expressão assustada de Jimmy, se aproximando mais até ter o corpo totalmente comprimido no dele – Se você me abraçar direito, eu prometo que você vai gostar do que está por vir...
                Gabrielle sussurrou realmente próxima aos lábios dele, mas sem tocá-los, apenas olhando-os como se fossem o que mais desejava na face da terra.
                Jimmy estava achando aquilo muito estranho, principalmente vindo de Gabrielle. O que estaria acontecendo? Devia tocar no assunto? Melhor não, ela estava linda... Talvez fosse melhor apenas concordar e fazer o que ela pedia: afinal, era bem simples, era só abraçar... Ela devia estar com frio, certo? Então ele a abraçou. Com força.
               Gabrielle passou a mão pelo peito dele lentamente, deslizando a mão por seu corpo trêmulo conforme descia, até os jeans do menino, de onde tirou sua varinha rapidamente e se afastou.
                - Mas o que...?
               Ela sorriu, como se soubesse de alguma piada particular que Jimmy não conhecia, e repentinamente, deu um gancho de direita diretamente em seu rosto. O sangue começou a espirrar pra todos os lados, manchando a neve antes imaculada que cobria o chão.
               Ele estava simplesmente aterrorizado: O que estava acontecendo? Que porcaria era aquela? Seu nariz ardia muito, a dor era muito forte e ainda mais intensa quando reforçada pelo frio, mas a curiosidade era maior. Colocou a mão sobre o nariz ensangüentado e observou Chuck e seus amiguinhos saírem das sombras.
                Chuck estava parado à sua frente ladeado pelos fiéis amigos, e uma Gabrielle corada de frio, portando sua varinha. Os rapazes possuíam sorrisos diabólicos, olhares sórdidos. Mas nada se comparava a Chuck: os olhos cinzas eram impenetráveis e cheios de pura maldade, não a maldade habitual com a qual andava por aí seduzindo as meninas ou lançando olhares de desprezo, era tanto prazer na situação do inimigo que chegava a ser físico, só de pensar no que estava prestes a fazer com Jimmy.
                - Meu querido James... – sua voz soava impiedosamente charmosa, ao mesmo tempo que dois de seus amigos cercavam Jimmy e o seguravam – estamos aqui para dar uma festinha.
                Brad se precipitou, um brutamontes, e estralou os dedos cruelmente, sorrindo para um Jimmy ensangüentado conforme acentuava o comentário de Chuck.
                 - E adivinhe só: Nós vamos dar o seu presente. Do jeito que você merece. Do jeito que eu prometi no corredor aquele dia.
                Jimmy não conseguia falar por causa do sangue em sua boca, escorrendo, manchando suas roupas, mas olhava para Chuck como se não acreditasse no que estava vendo.
               - Brad... – a voz do garoto era um sussurro prazeroso e letal – quer ter a honra de começar?
              Então eles jogaram Jimmy contra a parede e o espancaram. Chuck só ficou ali e observou, nunca sujaria as mãos num verme como James, nem mesmo as luvas caríssimas que costumava usar. Se conformou em vê-lo sangrar mais, e sentir a alegria se espalhar pelo corpo a cada soco.
               - Eu te disse James... – ele sorria triunfante a poucos centímetros do rosto de Jimmy, após uma pausa nos chutes, antes que James ficasse inconsciente – Eu sempre, sempre consigo o que quero. Você já devia ter aprendido...
               Chuck deu uma risadinha baixa e balançou a cabeça negativamente, como se achasse graça em ver o garoto ser torturado daquela forma.
               - Apaguem ele.

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