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terça-feira, 23 de novembro de 2010

Capítulo 21

HATING YOU
por Little Monster

                O sol entrava pelas frestas entre as pesadas cortinas de veludo vermelho e de franjas douradas, iluminando pequenas partículas de poeira que subiam em seu feixe de luz, destacando as cores dos objetos, esquentando as grandes camas de dossel do dormitório feminino da Grifinória, e o gelo se derretia nas janelas e gramados do castelo.
                 Kaisha roncava baixinho abraçada com seu pônei roxo de pelúcia, suas roupas amassadas e espalhadas em volta de sua cama, saindo do malão aberto. Na cama ao lado, Alice Vermount dormia num sono pesado e imóvel, tão imóvel que a fazia parecer sem vida, tendo essa ideia traída somente pela respiração leve que fazia seu peito subir e descer. Kathleen Hill havia saído para tomar café no Salão Principal, e Gabrielle DeLarge dormia no sono agitado de sempre, abraçada com seu travesseiro.
                Sentiu seu corpo quente, a temperatura começando a incomodar. Chutou os cobertores pesados e tentou continuar a dormir, mas a luz era tanta que a deixou desconcentrada. Olhou para o dossel da cama, tentando organizar os pensamentos sonolentos, no que teria que fazer hoje, e repentinamente, alguns flashes da noite passada apareceram em sua cabeça: Chuck.
                Tinha sido verdade? Meu deus, ela mal se lembrava do que havia acontecido, estava com tanto sono... Conversaram... Fizeram as pazes... Paz. Um acordo de paz. Mas paz para quê? Não estava acontecendo absolutamente nada para que precisassem de paz, a única coisa era que Chuck podia ser extremamente desagradável com ela e com as pessoas em volta... Mas isso não ia mudar nem com um tratado de paz mundial, ele era um mauricinho mimado e metido, sem dúvidas quanto a isso.
               Não podia negar que sua companhia era agradável: ele era engraçado, inteligente, e digamos que fornecia uma boa visão, mas em compensação tinha um ego enorme.
               "Tem uma coisa que você ainda não aprendeu..." Ela podia ouvir a voz dele em seu pensamento, tão perfeita quanto na realidade. "... Meu nome é Chuck Black."
               Gabrielle riu da recordação, ele era realmente hilário.
               Mordeu seu lábio inferior e saiu da cama em direção ao banheiro, tomou um banho quente e demorado, escovou os dentes, vestiu a roupa vermelha dourada e preta de Hogwarts que repousava numa pilha de roupas limpas perto de sua cama, recém trazidas pelos elfos domésticos. Parou em frente ao espelho, prendendo os longos cabelos castanhos num rabo-de-cavalo e passou um pouquinho de maquiagem: estava com uma cara horrível.
                Agarrou a mochila e os livros e saiu correndo para o apinhado Salão Principal, onde vários alunos já enchiam seus pratos com as deliciosas guloseimas do castelo e riam de boca cheia de alguma piada idiota feita pelo colega ao lado.
                Gabrielle passou pela mesa da Grifinória procurando Wes, quando seus olhos foram atraídos pelos gêmeos Weasley, que ao contrário do usual, estavam afastados de todos na grande mesa, aos cochichos e olhares nervosos, como se temessem serem ouvidos. Franziu o cenho: que coisa mais estranha... O que era aquilo que Jorge tirava do bolso? Parecia um docinho muito saboroso...
                Vindo dos gêmeos, aquilo não poderia ser apenas um pequeno e inocente doce, então Gabrielle diminuiu o passo e se aproximou o quanto pôde sem parecer suspeita.
                - Você acredita no quanto estamos vendendo, Fred? Logos nós vamos dar o fora desse castelo...
                - Nosso estoque de nugá-sangra-nariz está quase esgotado... As vomitilhas também. Imagine a febre que vai ser quando descobrirem esse sonhe-com-Willy-verruga... Quantos alunos apagando no meio das aulas pra acordar só no outro dia? – Fred riu baixo.
               - Precisamos tomar cuidado com o velhaco do Filch, ele está desconfiando do número de pessoas na Enfermaria... – Jorge indicou Argo Filch, o zelador, montando guarda ali perto, vigiando os dois e rogando pragas. – semana passada, ele me perseguiu com uma raquete na mão... Bem que o professor de Estudo dos Trouxas estava reclamando de roubos...
               Gemialidades Weasley... Nada demais, só o usual.
               Encontrou Wes com a boca cheia ao lado de Felix e sentou-se ao lado dos amigos.
               - E aí gente? – ela sorriu enquanto colocava o material de lado – dormiram bem?
              - Dormi... – Felix mexia seu suco de abóbora, olhando para um pedaço de pergaminho na mesa.
               Wes apenas assentiu animadamente com a cabeça, pois Felix gritava com ele quando falava de boca cheia.
              - Ei... Que é isso Felix? – Gabrielle espichou o pescoço para o pedaço de pergaminho, franzindo o cenho.
               - Ah, nada demais - deu de ombros – estava ouvindo a Professora Sprout comentar com Snape sobre os exames de aparatação depois do natal e resolvi anotar a data para não esquecer...
               - Como se um dia você fosse esquecer de alguma coisa... – resmungou Wes, mandando outro pedaço de torta de chocolate para a boca. – pelo amor de deus Felix, o exame é só depois do natal...
                - Que legal...
               - É, e acho que vou prestar... Afinal, o que custa não é? – Felix sorriu e passou o pergaminho para Gabrielle – você vai?
                - Acho que não... Não sei. Não adiantaria muita coisa pra mim, sou um desastre – ela riu, cortando um pedaço de bolo.
               - Eu vou... Vai ser demais! Imagine só poder simplesmente aparecer num lugar de repente, na hora em que você quiser...! – Wes apontou o garfo para Felix – as garotas iam pirar...
               - Se você não destrunchar uma perna antes. – Felix olhou para Wes com ar de censura.
               - Ouvi dizer que essas aparatações são muito perigosas... Preciso pensar se vou ou não. Cuidado hein Wes, não ia querer ver meu gordinho de muletas. – ela apertou as bochechas dele carinhosamente e fez um biquinho.
               Wes revirou os olhos.
               - Quem está pensando em usar muletas? – Emily sorria ao se sentar ao lado de Felix.
               - Wes. – Gabrielle apontou para o amigo.
               - Eu recomendaria um óculos de sol, é mais tendência do que muletas sabe...
              - Não é isso! Estávamos falando sobre prestar o exame de aparatação, e que é perigoso, podemos destrunchar partes do corpo...
               - Ah, agora eu entendi... – Emily sorriu para Wes. – mas não estou dizendo que você não ficaria uma gracinha de muletas...
               - Pelo amor de deus, vocês duas! – ele olhou feio para as duas garotas, que riam, e começou a resmungar baixo.
               - Meninas, o que vocês acham de todos nós adotarmos o visual Wes, vamos todos comprar muletas antes de prestar o exame... – Felix sugeriu com sua cara de sacaneando-Wes enquanto Gabrielle passava o pergaminho para Emily.
               - Vou falar onde vou enfiar essas muletas se você não parar com isso Felix. Vocês amam me encher o saco...

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              Os alunos freqüentaram suas aulas como de costume, a não ser pelo elevado grau de dificuldade que estavam tendo, pois o sexto ano era realmente difícil, até para os alunos mais inteligentes, que tinham muitas vezes que pedir para os professores repetirem a explicação mais de uma vez.
             Dirigiam-se para a última aula do dia, Emily, Gabrielle e Wes atravessaram os corredores apinhados de alunos e finalmente chegaram à familiar sala de Adivinhação da professora Sibila Trelawney. A sala, como de costume, estava repleta de fumaça para dar aquele ar místico, a luz baixa, o cheiro de incenso e os pufes perto de bolas de cristais.
               - Que beleza... Mais uma aula maravilhosa de pura magia. – ele resmungou enquanto se sentava em frente a uma bola de cristal, olhando para ela como se fosse uma continuação da mesinha.
               - Vai Wes, concentre seu chacra interior e mande a ver.
              A aula de Adivinhação havia sido uma tragédia, nenhum aluno parecia possuir o dom para a disciplina, soltando coisas como "Estou vendo uma garota muito linda... Morena de olhos verdes... Está olhando para mim... Ah não, espere, esse é o meu reflexo...”.
              Mas o pior a acontecer foi quando a Professora Trelawney perguntou à Wes o que ele estava vendo em sua bola de cristal:
              - Eu vejo... Um grande morcego preto... Com um nariz enorme... Não sabia que os narizes de morcegos podiam chegar a esse tamanho, professora Trelawney... Talvez seja um vampiro... – ele pareceu refletir, olhando a imagem – É, é definitivamente um vampiro, e não está em seus melhores dias, coitado...
              A Profª. Trelawney ergueu os olhos para a porta e viu Prof. Snape parado na soleira, fitando Wes com cara de poucos amigos. Nada disse, apenas ergueu o queixo e sibilou com sua voz intimidadora:
               - Professora Trelawney, Dumbledore precisa vê-la imediatamente em sua sala.
               - Oh, o que será? Harry Potter finalmente cumpriu seu destino, Severo? Tão jovem... Tão jovem... – ela balançava a cabeça, fazendo os cabelos armados voarem exasperadamente, e seu olhos gigantemente ampliados pelas grossas lentes de seus óculos piscando. – Severo... Será que poderia tomar conta de minha sala só um instante? – suplicou – não posso deixá-los sozinhos... Sabe como são os alunos...
               Snape passou os olhos pela sala com desprezo, crispando os lábios finos em desaprovação.
              - Esta não é minha função.
             - Ah, eu sei meu querido... Mas é uma urgência... Faça isso por Dumbledore, sim?
             E deixou a sala.
            Os alunos pararam completamente de tentar enxergar alguma coisa nas bolas de cristal, mas permaneceram quietos sob os olhos negros de Snape.

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             Gabrielle ria loucamente ao descer a escada na saída da sala de Adivinhação, fazendo imitações de Snape olhando para Wes em sua versão de vampiro, e Emily a acompanhava. Wes tentava segurar o riso, vermelho de vergonha, mas por fim acabava gargalhando com elas.
              Passaram por um trecho escuro e vazio no caminho para o Salão Principal, onde o jantar já estava sendo servido, quando Gabrielle ouviu pessoas cochichando ali perto. Parou de andar, reconhecendo as vozes:
              - Você vai fazer exatamente o que eu mandar você fazer, Steve. Você precisa de mim, e sabe disso. Por que está todo nervosinho? Não vamos ser pegos se você não abrir sua boca enorme. – Era Chuck, sua voz tão letal quanto a de Snape, só que bem, bem mais agradável de se ouvir, principalmente da forma que sussurrava agora.
              - É claro que vamos ser pegos Chuck! – Steve se alterava, o nervosismo evidente em sua voz esganiçada – Bryan caiu fora, abandonou o posto dele, alguém deve ter visto e está prestes a acabar com a gente, sem ao menos sabermos!
              - Nada vai dar errado. Bryan já teve a punição dele, e acho que você não ia gostar de receber a sua.
              Gabrielle parou e se aproximou mais, os amigos em seu encalço.
              - Então é melhor que você não dê pra trás agora, Steve, ou vai se arrepender.
              - Quem você acha que é pra falar assim comigo Chuck? Eu não sou seu empregado! Pra falar a verdade eu não tenho medo de você... Eu faço o que quiser! – A voz dele se tornava mais aguda a cada palavra.
              - Cala a boca Steve, ou vamos ser pegos nessa droga de corredor. Escute, essa boca enorme é sua e você tem todo o direito de abri-la, só quero que saiba que, se meu nome aparecer no meio por um acaso, eu acabo com a sua vida, e você sabe... Como eu sou bom nisso. – Sua voz não estava alterada, pelo contrário: Estava tranqüila e controlada, perigosamente calma e polida, um mau sinal.
             - Você fala como se fosse nosso chefe ou coisa assim... Fala como se não passássemos de empregadinhos seus, tendo que participar do seu plano ridículo e nos meter em confusão... O Prof. Flitwick está uma fera, ele é o diretor da Corvinal, cara! O que você acha que vai acontecer se formos pegos? Nós vamos ser expulsos! Você meteu a gente nisso e agora vai ficar todo bonitão de boa enquanto eu e os rapazes nos ferramos? Você vem junto Chuck!
              O queixo de Gabrielle caiu, não sabia do que falavam, mas coisa boa não poderia ser, estavam falando de serem expulsos... E mal podia acreditar que Steve estava falando com Chuck daquele jeito, ele e os outros meninos haviam sempre sido tão... Obedientes.
               - Você fala pelos outros? Eles mandaram você vir reclamar comigo?
               - Não, mas é a pura verdade, sei que eles também se sentem assim!
              - Você não sabe de nada. Os outros são de confiança, mas você... Você, Steve... Não passa de um covarde. Não é à toa que pertence à Sonserina, são todos covardes.
             Steve fungou, e Gabrielle imaginou Chuck bem próximo a ele, como que o encurralando, deixando-o o mais intimidado possível, o mais vulnerável, sem saída, sem escolha a não ser abaixar a cabeça. Emily tapava a boca com as mãos, atenta, e Wes se apertava contra a parede, tentando ouvir melhor.
               - Eu fiz tudo perfeitamente, esse plano não tem defeitos, por mais que o idiota do Knight tenha ficado assustadinho com algumas azarações idiotas, a localização que eu escolhi estava perfeita e longe do campo de visão de qualquer um. Dei minha palavra que vocês não se prejudicariam, e eu sou um homem de palavra, não sou?
               Steve grunhiu baixo, descontente.
               - Ótimo, que bom que concorda. Agora suma da minha frente.
               Ouviram passos indo em sua direção, e os três se meteram atrás das armaduras que enfeitavam o corredor, escapando de serem vistos por Chuck ou Steve. Gabrielle sentiu as pernas tremerem e sua respiração falhar: Aquilo era muito, muito ruim. O que ele tinham aprontado? Precisava descobrir... Seria alguma coisa com ela? Chuck tinha mentido quando dissera que queria que ficasse tudo bem entre eles? Não... Aparentemente esse plano já havia sido executado...
              Olhou para Emily e depois para Wes, que ainda mantinham suas expressões de choque quando saíram de trás das armaduras.
               - Elle... Você precisa tomar cuidado com ele... É bem pior do que você pensa... Você ouviu como ele disse aquelas coisas? Precisamos avisar a Alice... – Os olhos da amiga estavam arregalados.
               - Alice vai ficar bem... Acho que quem se deu mal foi outra pessoa... Não se preocupe Emmy.
              Wes abraçou Emily. Gabrielle mal podia pensar direito, ainda olhava para a direção onde Chuck havia desaparecido, sentindo a curiosidade crescer mais a cada segundo. Viraram o corredor depois de um tempo e continuaram seguindo para o Salão Principal.
              - Vocês sabem de alguma coisa gente? Alguma coisa relacionada ao que ele estava falando? – Emily andava rapidamente, falando com igual velocidade.
              - Emmy fica tranqüila... Pelo jeito que eles estavam falando aquilo já passou, estavam é com medo de serem pegos... Acho que alguém desconfia... – ele segurou sua mão.
              Enquanto os dois lançavam mais teorias sobre o que tinha sido aquilo, Gabrielle mantinha-se em seus próprios pensamentos... Aquilo parecia um plano de vingança no qual Chuck convencera seus amigos a participar... Alguém que ele odiava muito e queria se vingar... Mas quem? Seria algum caso de rivalidade antiga? Ou uma coisa mais séria? Pelo jeito que conversavam parecia ser realmente sério... Suspirou.
              - Vocês acham que aquilo foi sério e que estão realmente encrencados? Afinal, eles falavam de expulsão... Precisa ser sério...
              - Acho sim... – Emily acenava para um colega na mesa da Lufa-Lufa conforme adentravam no Salão Principal.
              - Ou então eles estavam apenas exagerando... Mas eu não sei... Do jeito que o Chuck é ele poderia estar apenas...
              - Apenas o quê?
              - Não sei. – Wes deu de ombros – exagerando mesmo, acho...
              - Mas vocês ouviram o tom de urgência na voz do Steve? O medo? Gente, eu preciso descobrir do que se trata, não estou com bons pressentimentos quanto a isso...
             E realmente não estava. Gabrielle sentia algo apertando seu peito, uma aflição, um sentimento de que algo estava seriamente errado e que talvez não pudesse acabar com aquilo.
              Mordeu o lábio inferior e tentou se acalmar, por mais que a voz suave e perigosa de Chuck não saísse de sua cabeça, por mais que o frio na barriga só aumentasse. Deveria falar com ele? Talvez mais tarde...
              Passou os olhos pelas quatro mesas e não encontrou Chuck e nem Steve, quando olhou na mesa da Sonserina. Se conformou em sentar e comer, por mais que tivesse perdido toda a fome.
              - O que tá acontecendo? Estão tão quietos... Geralmente eu nem consigo ler quando estou perto de vocês... Parece que alguém morreu aqui, que foi? – Era Felix, que havia acabado de chegar de sua última aula, de Runas.
              - Ouvimos uma conversa suspeita no corredor enquanto vínhamos para cá... Acho que o Black está aprontando de novo e estamos com medo de saber o que é...
             - Medo? – Gabrielle ergueu os olhos para encontrar os de Wes – não estou com medo. Estou sentindo por outra pessoa, porque coisa boa daí não pode ter saído.
              - O que ele disse?
             Gabrielle contou detalhadamente cada parte do que tinham ouvido, mas Felix não pareceu achar grande coisa, optando por apenas mais um pequeno conflito entre garotos adolescentes cheios de hormônios. Bem que ela gostaria de também pensar o mesmo.
             - É sério... Se eu fosse você, eu nem estaria me preocupando com isso... Devem ter trocado uns soquinhos por causa de quadribol, ou por uma garota... Esses meninos de hoje me envergonham. – e continuou a tomar seu suco, folheando o Profeta Diário da manhã. Ergueu os olhos do papel depois de alguns minutos – Ei... O Ministério está pegando pesado... Chamando Dumbledore de velho caduco, insinuando que não tem mais qualificação ou sanidade para continuar no cargo de uma escola de magia tão importante quanto Hogwarts...
             - QUÊ? – Gabrielle agarrou o jornal e trouxe para perto de si, não era possível... Adorava Dumbledore e McGonagall... Qualquer coisa negativa sobre esses dois era impossível de considerar – meu deus... – ela sussurrou – Isso deve ser coisa daquele ministro babaca e daquela sapa velha da Umbridge!
              - Deixa eu ver! – Wes e Emily entoaram em couro, puxando o jornal ao mesmo tempo e arrastando-o para perto dos olhos.
             - Pô! Não acredito! Que saco! Já não bastava ficar publicando notícias sobre o Potter, falando que o cara é pirado, que é mentiroso,que é o caramba a quatro, e que Você-Sabe-Quem não está voltando, já não bastava o Ministério dizer que está tudo sob controle e que o único perigo é o Sirius Black... O que eles fazem? Quer saber o que eles fazem? Eu digo o que eles fazem! Eles nomeiam uma sapa velha Alta Inquisidora de Hogwarts e agora dizem que o melhor diretor que Hogwarts já teve não é bom o suficiente?
             - Wes, você leu esse jornal de manhã. - lembrou-o Felix.
             - E DAÍ? EU NÃO POSSO FICAR INDIGNADO DUAS VEZES?
            Wes fulminou a mesa dos professores com o olhar, se tivesse poderes mentais, a cabeça de Umbridge explodiria naquele momento. Deu graças a deus por não estar no quinto ano, pois era o alvo principal de Umbridge, o ano que Harry Potter fazia parte. Os alunos do sexto ano não se manifestavam quanto às aulas horrorosas de Umbridge, nem de sua voz irritante, nem de sua cara de sapa velha e muito menos de suas roupas assustadoras, pois sabiam que as detenções dadas por ela não eram nada agradáveis, e corria um rumor de que fossem muito piores do que as dos outros professores. Drake Newlmann havia pegado uma, e nunca mais falou sobre o assunto.
             - Eu sabia que o Ministério estava interferindo em Hogwarts, mas não a esse ponto... Chega a ser absurdo contestarem a autoridade e a capacidade de Dumbledore... É ridículo. – se indignou Gabrielle, olhando incrédula para a foto de Dumbledore no Profeta.
             - Vocês acham que a Umbridge vai tomar o lugar de Dumbledore? – perguntou Emily
             - Sinceramente? – Felix puxara o jornal de volta, dando uma boa olhada na matéria – acho que o Ministério pode até tentar, mas não vai dar certo. Vocês sabem como ela é seleta, o quanto ela preza os sangue-puro e enoja os trouxas, mestiços e qualquer coisa que não seja... Digamos... Normal demais. Alguém assim não pode tomar o comando... Simplesmente não deve.
            - Mas não é uma questão de dever ou não, é uma questão de poder, Felix. É o Ministério, não se esqueça. Já ouvi dizer que o Ministério oculta morte de trouxas e bruxos causadas por Você-Sabe-Quem... Ouvi dizer coisas horríveis... E tirar Dumbledore de Hogwarts não seria nada para quem está tentando esconder a verdade desesperadamente... A qualquer preço.
             - Então você acha que Você-Sabe-Quem voltou?
             - Acho. Não só acho como tenho certeza... Acredito em Harry Potter e acho que vai tentar chegar ao máximo poder... Vai querer ser o Ministro da Magia, vai querer dominar a tudo e todos, e vai querer tomar Hogwarts.
             - Nossa gente... Vocês acham que isso pode acontecer um dia? – as sobrancelhas de Emily estavam erguidas, como se estivesse assustada – Acham mesmo que Você-Sabe-Quem vai querer invadir Hogwarts?
             - É só uma teoria – Gabrielle deu de ombros – Vai querer chegar ao cargo máximo e não vão cedê-lo, então ele vai se revoltar. Mas uma coisa eu digo a vocês. – ela deu um sorriso sombrio – estarei aqui para lutar pela escola até o fim.
             - É, eu também. – Wes parecia apreensivo, com o olhar fixo em Gabrielle.
             - Você pode estar exagerando um pouquinho Elle, mas eu também. – sorriu Felix.
             - Até o Fim... – suspirou Emily.
             - Ei, você é Gabrielle DeLarge?
            Ela se virou para dar de cara com uma menininha caloura de chiquinhas no cabelo, com um ar sapeca.
             - Sim, sou eu... – ela deu seu melhor sorriso para a garotinha.
             - Profª. McGonagall quer te ver na sala dela agora... Disse que é muito importante que você vá assim que puder... – a menininha deu um sorriso de dentes tortos e saiu correndo pra se juntar às amiguinhas na ponta da grande mesa.
             - Ahm? McGonagall quer me ver? Na sala dela? Que será? – indagou ela – será que eu fiz algo de errado? Wes, acho que vão te chamar também, devem estar bravos por causa do comentário que você fez de Snape... Ou das azarações que o Bryan levou...
             - Será? – Emily franziu o cenho – mas não teriam nos chamado antes?
             - Vai ver aquele idiota só deu com a língua nos dentes agora... – Felix revirou os olhos.
             - Anda Gabrielle, vai logo! Se você ficar aí conversando com a gente nós não vamos saber nunca né! Vai! – Wes empurrou a amiga para fora do banco de madeira – encontre a gente na sala comunal.
             Gabrielle se viu parada a alguns metros da mesa da Grifinória, se perguntando o que é que tinha acontecido. Sentiu aquela familiar sensação de frio na barriga e seguiu em frente, o que quer que seja, enfrentaria de cabeça erguida, afinal, é isso o que os Grifinórios fazem.

Capítulo 20

HATING YOU
por Little Monster

               A sala comunal da Grifinória era uma grande fornalha de alunos animados e agitados, que no momento carregavam o time de quadribol nos ombros e jogavam Harry Potter para o alto enquanto berravam o hino da Grifinória. Wes estava a toda, se balançando, empolgado, no ritmo do hino, batendo palmas e sorrindo para Emily.

                - Pelo amor de deus gente, estamos no sexto ano, precisamos estudar... – Felix resmungava como de costume sentado ao lado de Wes com seu livro no colo.
                - Nossa... Verdade... – Gabrielle mordeu o lábio nervosamente, dando uma olhadinha de esguelha para a pilha de deveres em cima de uma mesinha ali por perto – mas nessa animação desses meninos nem tem como pensar nisso agora...
                - Relaaaaxem gente... Nós somos bons, nós damos conta... – Wes se espreguiçava e abria um sorrisão para Emily – e você gatinha, quer estudar também? Não prefere curtir a vitória dos leões?
                - A vitória, acho... – ela deu de ombros.
                Fred e Jorge apareceram como que se tivessem simplesmente aparatado ali, sem serem vistos enquanto se aproximavam.
                - Ei garfoman, - Jorge sorria – queremos pedir desculpa pelos balaços...
                - É, sabe como as coisas são, os balaços saem do controle às vezes... – completou Fred.
                - Não queríamos machucar você...
                - Não, de forma alguma machucaríamos você pra poder sair com a sua namorada enquanto você estivesse na enfermaria...
                Wes estreitou os olhos, tornando-se subitamente vermelho. Parecia prestes a voar nos gêmeos a qualquer instante.
                - Vocês... Saiam... Agora...
                - Cuidado Fred, ele pode estar escondendo um garfo em qualquer lugar... Eu não me aproximaria...
                Wes correu atrás dos gêmeos, se enfiando pela bagunça de alunos à sua frente.
                - Esses dois não têm jeito mesmo hein... Por que será que gostam de perturbar o Wes? Coitado... – Emily franzia o cenho para a multidão, na direção onde Wes acabara de desaparecer.
                - Ah, não se preocupe com isso... – era Hermione Granger, sentada ali perto, tricotando toquinhas de lã – conheço bem Fred e Jorge e eles perturbam basicamente todo mundo... – a menina balançou a cabeça negativamente, desaprovando.
                - Sério? Arght. Wes sempre fica de mau humor...
                Gabrielle observava alguns alunos empolgados bebendo cerveja amanteigada e dançando na boquinha da garrafa, e ria. Num canto mais afastado da sala comunal, estava Chuck Black, se pegando com Felicia na parede. Desviou os olhos, sentindo nojo, até quando aquilo ia durar? Será que a idiota não percebia o que ele queria? Bom, de qualquer forma, ela ia ter o que merecia. Apertou o cachecol vermelho e dourado em volta do pescoço e tentou prestar atenção no que se passava à sua volta, mas sentiu o olhar de Chuck na sua direção.
                Felicia o abraçava calorosamente, de olhos fechados, mas ele não tinha a mesma compaixão, mantendo os olhos nela como se tentasse desafiá-la a se aproximar.
                - Ei Elle, vamos dançar? – Alice aparecera ali, e sorria meigamente para a amiga, ainda com alguns flocos de neve no cabelo.
                - Ahm... Claro, vamos lá...
                Dez minutos depois estavam acabadas no sofá vermelho, rindo loucamente. Os alunos iam se retirando para seus dormitórios pouco a pouco, inclusive Felicia, o que resultou em Chuck encurralado na parede por um grupinho de meninas mais novas querendo dançar com ele. O incrível era que ele parecia nem notá-las ali, não respondia, muito menos se dava o trabalho de olhar pra elas, apenas mantinha o olhar no sofá vermelho.
                - Nossa... Você reparou como o Chuck está lindo hoje? – Alice deu uma risadinha nervosa, olhando para ele do outro lado – Não é a toa que ele te dá problemas...
                - Ele não me dá problemas – Gabrielle franziu o cenho, olhando feio para Chuck – ele nem é tão bonito assim.
                - Por que você não fala isso pra ele? Ele tá vindo pra cá... – ela ria ainda mais.
               Gabrielle revirou os olhos impacientemente e cruzou as pernas. Até você, Alice? Ninguém é imune a esse cara? O que ele queria agora?
                - Olá... Estive observando a senhorita do outro lado da sala e não pude deixar de pensar que uma garota linda como você não fica muito tempo sozinha, é melhor agir rápido: quer dançar comigo?
                Gabrielle nem virou o rosto, simplesmente fingiu que ele não estava ali.
                - Ahm... – a voz de Alice era insegura, e a menina olhava para Gabrielle como se pedisse permissão, mas não teve o olhar retribuído – Tá, tudo bem...
               Espere aí. Alice dançando com o Chuck? Aaaah ele queria deixá-la mais fula do que ela já estava, pegando todas as suas amiguinhas e incluindo em seu harém particular? Pelo amor de deus, Chuck Black!
               Os dois se retiraram pra longe e foram dançar num canto mais afastado das outras pessoas. Gabrielle tentou não olhar, mas sua curiosidade foi maior: Chuck dançava bem próximo a uma Alice vermelha e sem graça que mal conseguia olhar nos olhos intensos do menino.
               - Que foi meu amor... Próximo demais a ponto de te deixar sem graça? – ele sussurrou, virando o rosto de Alice delicadamente na direção do seu.
               Alice mordeu o lábio inferior e sorriu tímida, optando por não dizer nada e permanecer com os braços em volta do pescoço dele.
               - Esse cara não perde tempo hein... – as sobrancelhas de Emily estavam arqueadas de surpresa.
               - Ah... Não mesmo, cuidado porque a próxima pode ser você, ou o Wes.
               - Nada de Wes! E se ele tentar chegar perto da Emily, ele vai ver o que é bom! – Wes havia acabado de voltar da caça-aos-Weasley e se sentara ao lado de Emily.
               - E o que você vai fazer com ele Wes? Espetá-lo com seu garfo? – Gabrielle não estava de bom humor.
               - Ahhhh você também está contra mim senhorita DeLarge? Pois saiba que eu tenho muitas outras habilidades além do meu garfo mortal!
               - Oown Wes, você é tão fofo! – Emily abraçava Wes com força, o que fez o menino ficar escarlate.
               Gabrielle viu Emily soltar Wes repentinamente ao ver sua carranca e olhar na direção de Chuck e Alice com uma cara de medo, que fez Gabrielle seguir seu olhar e se deparar com o casal se beijando intensamente ali no canto.
                Ah, ótimo, agora estavam todos se amando e em paz uns com os outros. Gabrielle bufou e se retirou para o dormitório, iria esperar até que todos fossem se deitar e iria terminar os deveres de madrugada. Muito melhor do que ficar e ver o idiota do Black fazendo pirraça pra ela.

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                 A sala comunal estava completamente vazia e silenciosa, o fogo quase extinto crepitava levemente na lareira, as brasas alaranjadas ardendo. Gabrielle DeLarge dormia pacificamente em cima de seu pergaminho de três metros sobre as propriedades do bezoar, num sono leve tranqüilo. Sentiu mãozinhas cutucarem suas costelas delicadamente, abriu os olhos devagar e fitou a sala bagunçada pela comemoração: papel vermelho e dourado por todo o lugar, copos e pratos espalhados por qualquer superfície que fosse capaz de conte-los.
                - Ahm? Quem é você? – ela olhava para uma criaturazinha com dois imensos olhos do tamanho de duas bolas de tênis.
                - Eu sou Dobby, senhorita... Desculpe por acordá-la, mas Dobby precisa limpar a sala comunal da Grifinória, senhorita... Se importa...?
                - Ah... Ah... – ela piscava os olhos, sonolenta, ao perceber que adormecera enquanto fazia as tarefas – tudo bem, desculpa, Dobby. Eu até ajudaria se não estivesse tão cansada.
                - Tudo bem, Dobby não se importa de limpar, Dobby gosta de ajudar alunos da Grifinória... Muito corajosos e dignos... – os grandes olhos brilhavam de alegria, o que deixava Gabrielle um pouco assustada.
                - Senhorita, mandaram Dobby entregar isso... – Dobby apontava para um pequeno envelope endereçado a ela, e uma rosa negra ao lado deste, ambos pousados na mesa ao lado do braço da menina.
                - Quem?
                - Ele disse que o nome estava escrito no cartão, senhorita...
                - Ah ok, obrigada.
               Então ela se levantou e abriu o pequeno cartão:

Me encontre na Torre de Astronomia às duas horas.


Jimmy.


                O que será que Jimmy queria? Que coisa estranha... E essa rosa negra? Não era do feitio dele... Principalmente por ser monitor, se fosse pego fora da cama nesse horário estaria seriamente encrencado. Mas podia ser importante, ou então seria apenas mais alguma surpresa romântica? De qualquer forma, Jimmy teria que suportar sua cara sonolenta e lidar com isso, se era mesmo esse o horário que escolheria para os encontros...
                Ela olhou para o relógio e viu que era uma e quarenta, teria que se apressar.
                Agarrou o casaco, passou pela Mulher Gorda – que reclamou de ter sido acordada – e se moveu rápida e silenciosamente pelos corredores escuros e sombrios, ouvindo seus passos ecoarem pelas paredes, observando os quadros dormindo. Olhava para tudo ao seu redor, mas nem sinal de Filch ou Madame Nora, o que foi um imenso alívio, que permitiu que chegasse até a Torre de Astronomia sem ser pega. O que foi um alívio, é claro.
                Empurrou a porta destrancada da Torre e subiu as escadarias, chegando lá, foi temporariamente distraída pelo céu escuro que mostravam as janelas da torre, mas logo correu novamente, querendo falar logo com Jimmy e poder estar em sua cama quente e macia de dossel.
                Mas quem estava debruçado numa janela, observando o céu, não era Jimmy. Era Chuck. Podia ver o recorte de suas costas, seu cabelo desgrenhado e a roupa amarrotada. Observava o céu com uma expressão vazia e melancólica, por um momento parecia que seus olhos refletiam o cinza daquele céu triste, mas ela sabia em toda certeza de que o gelo deles não vinha do céu.
                - Achei que não viria... – ele sussurrou em meio à escuridão da torre, sem virar-se para olhá-la.
                - Ahm? O que você...? O cartão dizia Jimmy...
                - E de que outra forma eu conseguiria falar com você? É claro que você não viria se eu tivesse posto o meu nome.
                Gabrielle estava chocada.
                - Vamos lá, Elle, você já foi mais inteligente.
                Ela cerrou os dentes, segurando a língua, sentindo o velho e conhecido torpor de calor, de raiva, subindo pela espinha. Realmente, tinha sido idiota.
                Aquilo a fez pensar em Jimmy... Uma das coisas que a convencera de que era mesmo Jimmy, era que ela não o tinha visto hoje, e achava que era por causa do jogo de quadribol, imaginando que ele não gostaria de vê-la toda feliz pela derrota de sua casa.
                - Podia ter falado comigo hoje na festa, Chuck... Ah não, espere: Você estava ocupado demais enfiando sua língua na boca de várias garotas.
                - Por favor Elle... Não seja ciumenta. – ele suspirou, chegando mais perto – precisava falar a sós com você, sobre o que aconteceu no dormitório aquele dia... Você não fala mais comigo desde aquilo.
                Ela não disse nada, apenas olhava para aquele rosto perfeito à sua frente, tentando ignorar os belos traços moldados pelo contraste entre a pouca luz e a escuridão da torre. Algum tempo se passou, ele a olhava como se pensasse no que dizer.
               - E daí? Não faz nenhuma diferença. – Gabrielle se encostou na parede fria e apertou o casaco em volta do corpo.
               - Queria pedir desculpas.
               - O quê? – ela arqueava as sobrancelhas
               - Pedir desculpas. Eu não deveria ter falado com você daquele jeito.
               - Ok, acho que alguém está bêbado. Volte pra cama Chuck, nos falamos quando estiver sóbrio. - Ela virou as costas para se retirar, pensando no tempo desperdiçado e na cama quentinha esperando por ela no dormitório.
               Ele suspirou e se encostou na janela.
               - É tão difícil assim acreditar que estou arrependido? É sério Elle, eu gosto de você, mas posso me tornar um grande estúpido quando bebo.
               - Aaah, agora está explicado. Quando você bebe. Porque quando você não bebe, você é um amor, certo?
               Chuck riu baixo, mas Gabrielle não podia ver seu rosto direito.
               - Tudo bem, você pode achar que eu seja um pouco desagradável pra maioria das pessoas – o que eu discordo totalmente, mas isso não vem ao caso agora, porque eu queria te pedir desculpas e te oferecer um acordo de paz.
               - Que eu saiba não estamos em guerra, ou estamos?
               - Não... Ainda. Mas podemos entrar em uma, caso você não me perdoe.
               - Isso é uma ameaça, Black?
               - Não, não... Claro que não é... – ele ria – Elle, meu amor... Você precisa sair da defensiva só por um momento, por que não chega mais perto?
               - Não, obrigada.
               - Tudo bem... Pense nisso, nós podemos ser bons amigos, pra que ficar nessa situação chata? Ninguém gosta de coisas desse tipo, acho que nem mesmo você.
               - Haaaha, olha só, o grande percussor da paz mundial falando. Sério Chuck, o que você quer de uma vez? Eu estou morrendo de sono, e está frio aqui em cima.
               - Só quero conversar, só isso. – Ele estava agora debruçado sobre a janela, olhando para o céu. – mas você está na defensiva demais para isso, certo?
               - Arght, Chuck. – Gabrielle bateu a mão na testa e se aproximou contra a vontade, parando ao lado do rapaz na janela grande e aberta. – Tudo bem, pode falar.
               Ele estreitou os olhos como se avaliasse a palavra de Gabrielle, resolvendo se poderia ou não falar. Então ele pegou sua mão e apertou na sua, olhando diretamente em seus olhos.
               - Me desculpe. – ele sussurrou.
               Ela suspirou, tentando conter a impaciência. Qual é a desse cara? Pra que isso agora? O que ele quer, pelo amor de deus?
               - Chuck... – olhava para sua mão como se fizesse parte de outro corpo e não do dela – Pra que você está fazendo isso? Você já tem tudo o que queria, o que mais você pode querer?
               - Não posso me sentir arrependido? – ele levou a mão da menina aos lábios, deixando ali um leve beijo.
               - Por favor, vamos ser sinceros. Não estou a fim de joguinhos, estou morta de cansaço. Abrevie por favor. O que você quer?
               - Você.
               - Ah, fala sério Black. – ela tirou sua mão da dele abruptamente e revirou os olhos.
              Chuck mordeu o lábio inferior, como se estivesse chateado. Droga, ele tem que fazer essa cara?
               - Tudo bem, eu te desculpo, já posso ir? – Gabrielle ergueu as mãos como se rendesse
               - Você ainda está chateada. – ele afirmava, e não perguntava.
               - Sério – Gabrielle olhava pra ele parado ali, todo esplendido em sua beleza em plenas duas horas da manhã, todo manso, enquanto ela estava morta de cansaço, de sono, e de mau humor, e de cabelos bagunçados. – você é um babaca e nada vai mudar isso. Você vai continuar me machucando, e machucando as outras pessoas. Você é mau.
               Chuck soltou uma gargalhada, parecendo se divertir muito com o que Gabrielle acabara de falar.
               - Mau? – ele ainda ria - Por causa das coisas que você me ouviu falar? Você não sabe o que é mau, Elle. Eu posso ser bem pior do que qualquer coisa que você já tenha visto. – Chuck sorria de uma forma devastadoramente charmosa, e chegava bem perto de Gabrielle, encurralando-a na parede da torre – mas não com você, se você não quiser que eu seja... Eu gosto de você. – ele enrolou uma mecha dos cabelos da menina em um dos dedos, mas logo voltando sua atenção para o rosto dela.
               Alarme: Próximo demais, próximo demais. Chutar Chuck Black pra longe ou esquecer o orgulho que você tanto preza, senhorita DeLarge. Mas ela simplesmente não estava conseguindo tirar os olhos daquele rosto lindo, desviar o foco daquela voz... Só conseguiu expulsar um filete de voz baixa:
               - Acho que não te conheço muito bem... Não estou gostando disso, Chuck.
               - Não precisa ter medo – ele riu baixo, sentindo prazer em ver a expressão de Gabrielle, se poupando de mais palavras para apenas olhá-la.
               Gabrielle engoliu a seco e respirou fundo, sentindo de repente que ficava mais difícil respirar perto dele. O que tinha de errado com esse cara? Sempre se perguntava a mesma coisa mas ficava difícil achar a resposta... Ele era lindo com um anjo, mas era mau e perverso, como um diabo. E era tentador como um diabo também, ela que o diga.
               Chacoalhou a cabeça quando percebeu que já estava ficando tonta de olhar para aquele ser tão próximo e lutar contra as próprias forçar para não ceder, e por fim conseguiu plantar uma mão no peito dele e o afastar o suficiente para conseguir respirar.
                - Onde estávamos mesmo? – Gabrielle lutava pra recuperar a pose, se aprumando da melhor forma que podia, estando descabelada e trêmula de frio. – Paz... Hm. Tudo bem, eu te desculpo, mas você fica longe de mim e de minhas amigas. – ela frizou bem essa parte enquanto falava, tendo um flashback de Chuck se amassando com Alice.
                - E qual é a vantagem de estar de bem com você e não poder falar com você? – ele havia se afastado e cruzado os braços, apoiado na parede casualmente, como se tivesse acabado de chegar. – não seja má comigo, Gabrielle DeLarge.
                - A vantagem é não levar um soco.
                - Que foi? Achei que você não se importasse que eu tivesse um pouco de diversão com outras garotas... Não sabia que tinha que ser exclusivo.
                Ela podia ouvir o riso em sua voz, por mais que no momento estivesse debruçada na mesma janela que Chuck estivera há minutos atrás, fitando as estrelas assim como ele, o mesmo céu frio e cinza, a mesma escuridão. Sentiu seu corpo pedindo por descanso, e o cansaço das semanas de aulas exaustivas e sem muitas pausas a tomar seu corpo naquele momento, não deixando que se desse o luxo de ficar brava pelo comentário.
                - Faça o que você quiser, mas fique longe das minhas amigas. Assim pelomenos eu sei que você não está fazendo pirraça.
                - Pirraça? – Ele se encostara ao seu lado, olhando-a atenciosamente, quase encostando em seu braço – Elle... Você realmente não me conhece. Eu não sou um cara de pirraça, eu sou um cara de vingança.
                - Então aquilo foi vingança por te ignorar? Uau... Você precisa melhorar, Black.
                - Aquilo fui eu me divertindo, apenas. Eu gosto de garotas bonitas.
               Gabrielle bufou e deitou a cabeça pesada e sonolenta nos braços, fechando os olhos, queria aparatar em sua cama naquele momento, fazia tanto frio lá em cima...
                - Espero que eu nunca tenha que descobrir do que eu sou capaz...
                - Você fala muito, Black. Fique quieto e me deixe ir embora, pra minha cama quentinha.
                - Por isso te pedi desculpas... – ele continuou como se não tivesse ouvido, ignorando o ataque de sono intenso de Gabrielle - Porque não quero nada de ruim entre nós dois, é muito cedo para brigas não acha? E eu gosto da sua companhia.
                - Você sabe que só quer minha companhia porque não pode tê-la como deseja, e porque Jimmy a tem... Você gosta de brincar com as pessoas... – ela bocejou, franzindo a testa pra ele em seguida.
                - Você sabe que não é verdade... Você é especial pra mim.
                - Ah pelo amor de deus, você mente mal, Black.
                A mão de Chuck deslizou delicadamente pelas costas de Gabrielle, parando em sua cintura, até que a apertasse, a virasse para si, e a abraçasse. Era quente, cheiroso e confortável: um lugar muito difícil de se sair quando se estava com sono.
                - Chuck... – ela sussurrou – me ajuda a voltar pro dormitório, eu vou desmaiar na volta... – ela se afastara, massageando as têmporas, sonolenta.
                - Só se você me der um beijo. – ele a soltou completamente, como que demonstrando a fragilidade de seu corpo sem o auxílio do dele.
                - Fala sério Chuck... Eu vou desmaiar de sono, de verdade...
                - Você precisa de mim Elle... Só um beijo, isso não é nada, é?
               - Claro que é! – Gabrielle fulminou o garoto com os olhos e se apoiou na parede, indo até a saída da torre – tudo bem Black, vai ser do seu jeito, se acharem meu corpo estatelado numa escada amanhã, a culpa é sua...
                - Mulheres... Tão dramáticas... – ele revirou os olhos e foi pra perto dela – tudo bem, eu ajudo- ele sorriu – mas você vai ter que pedir.
                - Pedir? Eu já pedi.
                - Você quer ser encontrada morta numa escada Gabrielle? – ele estreitou os olhos acinzentados, encarando-a de forma séria.
                - Arght. – ela bufou, se dando por vencida – preciso de ajuda pra voltar... Por favor? – Gabrielle empurrou as últimas duas palavras por entre os dentes, de má vontade.
                - Pede direito Gabrielle...
                - CHUCK!
                - Tudo bem, isso serve. – ele riu e passou o braço da menina em volta de seu pescoço e a pegou pela cintura – você está realmente cansada, não?
                - Chuck eu te perdôo, você é lindo e tudo o mais, agora me leva pra lá ok? E nada de me beijar enquanto eu estiver dormindo no seu ombro... – ela apontou o dedo para ele ameaçadoramente, não sabendo mais se sonhava ou não, morrendo de sono.
                - Eu nunca faria isso Elle... – ele riu, levando-a para fora da sala – eu precisaria te desarmar antes...

sábado, 13 de novembro de 2010

Capítulo 19

HATING YOU
por Little Monster

               - Aaaah, pelo amor de deus, VAI GRIFINÓRIA, VAI! – Wes berrava em plenos pulmões na arquibancada lotada de gente – O QUE É ISSO SEUS PALHAÇOS? O QUE VOCÊS ESTÃO FAZENDO? – o garoto puxava os próprios cabelos, apertando os olhinhos charmosos e castanhos, olhando feio para os batedores da Grifinória – E VOCÊ, WEASLEY? BATE FEITO UMA MULHERZINHA!
                - Por que não vai até lá e acaba com ele?
               Felix estava sentado bem ao lado de Wes, tentando ler um livro sobre feitiços avançados no meio de um jogo de quadribol, enquanto pessoas gritavam até a alma sair do corpo, pulavam, xingavam, batiam, faziam gestos obscenos e elogiavam as mães uns dos outros. Ele mantinha a expressão pacífica e concentrada, como se não houvesse ninguém ao seu lado, nem mesmo um garoto à sua direita, vestido de leão com a boca particularmente suja.
                 - VOCÊ ESTÁ LENDO, FELIX? NO MEIO DO JOGO, VOCÊ ESTÁ LENDO?
                - É só impressão sua, na verdade, isso é um holograma. – Felix sorriu sarcasticamente para ele por trás dos óculos de aro grosso.
                 - O QUE É UM HOLOGRAMA? – Wes esquecera-se de abaixar o volume da voz, ainda gritando por cima das vozes dos outros torcedores vermelho-dourado.
                  - Uma tecnologia trouxa ainda em testes.
                 - E mais um gol para a Corvinal! – A voz de Lino Jordan preencheu o campo – Vamos lá Grifinória! Se eu fosse vocês tentava melhorar o empenho do time, tem um gordinho irado na arquibancada querendo arrancar os miolos dos gêmeos Weasley...
                 - MAIS UM GOL PRA CORVINAL? ONDE ESTÁ VOCÊ, HARRY POTTER? PRA QUE SERVE ESSA PORCARIA DE VASSOURA?
                  Emily Portrait chorava de rir ao lado de Gabrielle, e não disfarçava estar adorando o momento de descontrole de Wes. Felix folheava o livro tranquilamente, franzindo o cenho para o conteúdo de vez em outra.
                 - POR QUE VOCÊ NÃO VAI PRA CORVINAL, FELIX?
                 - Pergunte ao chapéu seletor.
                 - O CHAPÉU SELETOR É UM IDIOTA.
                 - Não Wes, você é um idiota. Agora pare de gritar na minha orelha por favor.
                 Wes não respondeu, porque estava ocupado demais fazendo gestos obscenos para os jogadores, e aparentemente os gêmeos Weasley viram, pois lançaram, ao mesmo tempo, dois grandes e fortes balaços em Wes, que o acertaram em cheio no braço e na barriga.
                  - Aiii... – Ele gemia baixo enquanto se dobrava em dois.
                  - E Fred e Jorge parecem errar os balaços, olha só que coisa! Num torcedor muito empolgado da grifinória, senhoras e senhores! É claro que foi só um acidente... E agora a Professora McGonagall está ameaçando substituir os gêmeos se não se concentrarem no jogo... Ela está muito brava, dizendo para não matarem os torcedores e honrarem Godric Gryffindor. Eu não sei se tem muito a ver, afinal, ele nem jogava quadribol, acho... Mas se servir de incentivo... Agora ela está vindo na minha direção com cara de poucos amigos... Mas não consigo entender o que ela está dizendo, pois minha atenção está sendo desviada pelo Professor Flitwick, que cutuca seu nariz avidamente... Deve ser o nervosismo... Calma professor, seu time está ganhando!
                   A torcida Azul do outro lado do campo vibrava, não só pela vantagem de pontos, mas pelo golpe num torcedor do time adversário. McGonagall tentava tirar o microfone de Lino à força, mas Lino continuava narrando:
                   - E acho que os apanhadores viram a mesma coisa... Vamos lá Potter, mostre para a torcida do que você é capaz... Não está muito longe do pomo... E Potter estende a mão, está quase lá...
                 A tensão em ambos os lados era plausível, a multidão quase se calava por completo.
                  - E Potter tem sua frente cortada pelo apanhador da Corvinal... O que é isso minha gente? Vai Potter! Tudo bem Professora McGonagall, eu vou parar de torcer pra Grifinória! Vai Corvinal, eu sei que vocês são mais do que uns nerds babões, peguem esse pomo de uma vez!
                   O jogo valia a pena mais pela narração de Lino do que pelo quadribol em si, era como Gabrielle pensava, rindo muito dos comentários do garoto. Levantou seu lenço vermelho e dourado da Grifinória e aplaudiu Lino com vontade, recebendo de volta uma piscadela animada.
                   O céu estava cinza, o tempo era horroroso e nevava, mas nada mantinha os alunos fora dos jogos de quadribol entre as casas, era simplesmente divertidíssimo torcer pela sua casa, xingar, gritar, colocar tudo pra fora, se divertir com os comentários importunos de Lino Jordan. Mesmo sentindo o vento em seu rosto, queimando sua pele, não conseguia se incomodar, ignorava a neve, gritava mais alto quando Potter se aproximava do pomo. Que coisa... Com tantos problemas na vida, Harry Potter ainda era um ótimo jogador de quadribol. Gabrielle se perguntou se teria forças, no lugar de Potter, para se preocupar com outras coisas, para se divertir depois de tudo o que passara. Wes não gritava mais, apenas xingava baixo, mais como um murmúrio insolente, fuzilando os Weasley com os olhos conforme acariciava os locais atingidos pelos balaços mal-intencionados dos gêmeos.
                   - Esse jogo não está simplesmente o máximo? – Emily se encostara em Gabrielle para se manter mais aquecida – Achei que Wes fosse ter um derrame...
                   Gabrielle apenas assentia e sorria. Ambas ergueram os rostos para cima e colocaram as línguas para fora, tentando pegar os flocos de neve.
                   - Ei, vocês duas... – Felix tentava se pronunciar acima dos gritos dos outros torcedores enquanto esticava o pescoço fino – vocês sabiam que os flocos de neve...
                    - AGORA NÃO FELIX, AGORA NÃO! – Wes estava de pé com o casaco aberto, revelando o leão da grifinória pintado perfeitamente no peito pelado e gorducho – VAI GRIFINÓRIA, VAI GRIFINÓRIA, VAI GRIFINÓRIA!
                   Fred Weasley apontou Wes para o irmão, e os dois começaram a rir imediatamente, escandalosamente, até chorarem.
                  - E parece que temos um aluno exibicionista na arquibancada da grifinória, senhoras e senhores! Ele exibe seu físico malhado com um belo desenho de um leão! É disso que eu estou falando... Aposto que vocês não superam essa, seus babões!
                   - Já chega, Senhor Jordan, o senhor já passou dos limites! – Era possível ouvir a voz próxima da professora McGonagall, seca e severa.
                   - Mas professora... Eu só estava narrando...
                 E bem nesse momento, a torcida Vermelho e dourado explodiu em gritos extasiados, levantando-se, pulando, abraçando uns aos outros: Potter pegara o pomo.
                   - SENTE ESSE TANQUINHO MEU BEM, SENTE ESSE TANQUINHO! DEPOIS DESSA NÃO TINHA COMO PERDER, TOMA ESSA CORVINAL! APOSTO QUE SEU TIME TODO FICOU INTIMIDADO, HAH?
                   Felix dera um peteleco no nariz de Wes, puxando-o de volta ao banco e fechando seu casaco.
                   - Você está nos envergonhando, arrume essa roupa antes que eu lhe dê um soco bem dado, pelo amor de deus, o que Godric Gryffindor diria se visse essa coisa no seu peito?
                    - Ele diria que eu sou um gato, o que mais poderia dizer?

_________

                    A multidão de alunos se dissipava pelos terrenos do castelo a fim de voltarem para suas salas comunais quentes e aconchegantes. Wes carregava Emily de cavalinho nas costas pelo caminho, enquanto Felix tagarelava à vontade com Gabrielle, discutindo os valores dos quatro fundadores de Hogwarts: um assunto que ambos poderiam ficar horas conversando, pois amavam o tema.
                     - Eu achei uma covardia Slytherin querer se vingar daquele jeito, deixando o pequeno presentinho que foi a câmara secreta, você lembra que horror?
                     - Arght, nem me lembre... A escola toda estava em pânico, todos pensando que iam morrer... Meu deus. Isso só porque o cara não gostava de bruxos que não fossem puros, que besteira.
                    - Pode ser uma besteira pra você, mas se coloque no lugar dele: Árvore genealógica impecável, berço de ouro, alta moral na sociedade bruxa, talentos sobrenaturais como falar com as cobras – mesmo que fosse uma coisa das trevas – digna do sangue sua família. Sem falar na criação dele.
                     - É, tudo bem, mas uma pessoa não deixa de ser boa só porque seus parentes não têm sangue puro. Não deixa de se preocupar com os outros, de ajudar, de ter um bom coração. Muito sangue puro por aí não passa de idiota. – Gabrielle disse enquanto pensava em um certo rapaz Black.
                     - Concordo, visto dessa forma. Mas se Slytherin não fosse assim, talvez não tivéssemos Hogwarts como é hoje.
                      - Sonserina não faria falta.
                      - Pense por outro lado... Se não existisse a Sonserina, quem perderia pra nós no quadribol? – Felix sorria alegremente, o que era uma coisa rara, mas contagiou Gabrielle rapidamente.
                      - A CORVINAL! AHAHAHAHAHA! – Wes ainda ria e saltitava com empolgação levando Emily às suas costas.
                     Gabrielle gargalhou com a resposta, Felix apenas revirou os olhos: a imagem do leão no peito de Wes cintilando em suas córneas.
                    O vento estava cada vez mais forte, então apertaram o passo em direção ao Castelo. Bryan Knight estava encostado na parede que dava para um escuro, pequeno e mal-iluminado corredor externo no meio do caminho, olhando para os lados com nervosismo, como quem teme ser pego fazendo algo de errado. Ele tentava disfarçar, mas quando qualquer aluno que não fosse da Sonserina chegava perto demais, ele se apertava um pouco contra a parede. Olhou para o corredor e, ranzinza, praguejou alguma coisa. Seu rosto se iluminou de repente ao ver os alunos já saindo do jogo de quadribol, e é claro que ao ver Gabrielle passar por ali com seus amigos não o fez afundar na parede.
                     - Ora ora ora... A sabichona resolveu sair de seu mundinho particular onde é a melhor em tudo e resolveu ver um jogo de quadribol? – alfinetou - Por que não volta pro seu lugar sua perdedorazinha ridícula? Juntos com seus amigos babacas, é claro. – ele ria, como se aquilo tivesse sido uma ótima piada.
                      - Noooossa, essa doeu hein Bryan? – ela colocou a mão sobre o peito como se estivesse sofrendo de dores horrorosas no coração – Não quer me matar agora para que eu não tenha que sofrer?
                       - Ei, não fala com a minha amiga desse jeito não! – Wes colocara Emily de volta ao chão e bufava de raiva.
                       Emily soltou um de seus familiares guinchos de indignação e estreitou os olhos para Knight, já deixando a mão pousar em sua varinha, que descansava no cós de sua saia.
                       - Oh que gracinha, ele está todo bravinho... Por que você não corre pra contar pra sua mãe que o titio Knight foi mau com você? Mas uma coisinha pro seu consolo: titio Knight é mau com todos os sangues ruins nojentos desse castelo.
                      - Deixa a gente em paz Knight. – Gabrielle já ia puxando os amigos de volta para o castelo, quando ouviu a voz áspera do garoto assumir um tom mais malicioso do que o usual:
                      - É assim que você faz quando seu namorado não está aqui pra te defender, você foge?
                      - Que namorado? – ela indagou, mas já sabendo a resposta.
                    Bryan riu, atingindo uma nota mais aguda do que pessoas intimidadoras gostariam, e depois de lançar mais um olhar forçadamente despreocupado para o corredor escuro, assumiu o sorriso sarcástico. Gabrielle apertou a varinha por dentro das vestes, sentindo uma onda de raiva esquentar e subir pela espinha.
                     Ambos sacaram as varinhas ao mesmo tempo, mas antes que qualquer um dos dois pudesse lançar algum feitiço, Felix fora mais rápido e lançara em Bryan uma montanha de azarações, fazendo com que seu rosto ficasse cheio de algo parecido com tentáculos de polvo, e pêlos gigantescos a brotar de suas orelhas. Ele tentou revidar, mas se encontrou encurralado na parede por quatro pessoas empunhando-lhe a varinha ferozmente, e sem voz – um tentáculo teimoso parecia gostar da idéia de entrar pela sua garganta abaixo, tapando toda sua boca – se contentou em fazer um gesto obsceno, urrar de raiva e correr escadaria acima.
                     Os amigos se olharam e riram, sentindo o laço de amizade se apertar mais.
                     - Felix... – Wes olhava-o de esguelha
                     - O que é?
                     - Você arrasou.
                     - É, eu sei... – ele retribuiu com uma piscadela
                     Agora Wes sabia porque Felix pertencia à Grifinória.

_________

                     - Tem certeza que está fazendo isso direito, Randall? Você sabe, nós não queremos problemas. – Chuck sorria maliciosamente enquanto olhava para o amigo parado à sua frente.
                       - Tenho sim, a escola toda está assistindo ao jogo agora, e Bryan está vigiando. – ele respondeu rapidamente. – Tudo exatamente como você planejou...
                       - Ótimo, então já podemos começar... Que horas são?
                       - Quatro e meia, calculo que temos aproximadamente uma hora antes de alguém pegar o pomo, o tempo está horrível. – Quem falava era Luther.
                       - Anda logo. – Chuck olhou para um trecho mais escuro do corredor, como se falasse com alguém mais além.
                        - Não acredito que estou fazendo isso cara... – disse uma voz feminina.
                        - É só por uma hora, não seja ridículo. Anda, o babaca é irritantemente pontual, já deve estar lá fora.
                        - Se é tão fácil assim por que você mesmo não faz? – A voz feminina parecia ressentida.
                     - Porque tenho quem o faça por mim, e é aí que você entra.
                    - E se eu não quiser fazer? – ela o desafiou, mas sua voz transbordava insegurança.
                    - Você sabe o que acontece com as pessoas que me deixam na mão, não sabe? – ele chegava mais perto da área sombria do corredor - Agora coloque essas lindas pernas grossas pra fora antes que eu entre aí e dê um jeito em você, só pra te lembrar que a partir de agora você é uma garota.
                  Gabrielle DeLarge saiu das sombras vestindo um uniforme mais curto do que o usual, estava linda, apesar de parecer extremamente irritada e contrariada, e é claro, morrendo de frio, afinal: estava nevando.
                   - Nossa Steve... Você está mesmo uma delicinha.
                   Imediatamente os garotos começaram a rir do amigo, mas Chuck não tinha tempo para diversão agora: Ia pegar aquele idiota, fazê-lo pagar, como só uma boa lição à moda Black podia fazer.
                  - É bom você fazer isso dar certo – ele se aproximara bastante de Steve-momentâneamente-Gabrielle, emanando ameaça em cada sílaba – Eu tive que levar uma detenção de propósito pra poder pegar a poção polissuco da sala do Snape, e mais um pouquinho de trabalho pra conseguir um fio de cabelo dela. Faça valer a pena, douçura.
                   Chuck sorriu. Por um momento Steve pareceu que ia protestar, mas os olhares severos de seus colegas o fizeram mudar de idéia, e então ele foi o mais rápido que pôde para a entrada do corredor, onde seu colega Bryan Knight estaria montando guarda. Não tinha ninguém.
                    - Ué... Cadê ele? – ele suspirou, nervoso.
                 Jimmy estava parado a um metro de distância, e veio imediatamente ao ver Gabrielle parada ali.
                    - E aí...? Acabei de sair do jogo, achei que não daria tempo... Ufa... Mas ainda bem que deu, você está aqui...– Jimmy parecia animado e encantado por ela ao mesmo tempo, mas seus sentimentos doces foram interrompidos - Nossa Gabrielle... O que aconteceu? Não está com frio? – ele deu uma boa olhada no corpo mal-coberto da menina.
                    Steve se recusava a abrir a boca, só queria acabar com aquilo logo, por que Chuck tinha que ser tão específico? "É pra seduzir o garoto, trazê-lo até aqui. Pense como uma garota fácil, e use o corpo, funciona sempre."
                    Estava difícil fazer o que lhe tinha sido mandado, e Jimmy já começara a ficar preocupado.
                    - Amor... V-Você tá bem? – O menino ficava cada vez mais preocupado ao perceber o comportamento esquisito dela. – Anda, veste a minha blusa... O que houve com a sua? – ele dizia enquanto retirava o longo sobretudo preto com o emblema da Corvinal bordado nele.
                    - Não, não estou com frio, obrigada. – Que se dane, ele refletiu vamos lá, agora eu sou uma garota – Só quero conversar com você a sós, meu amor... Preciso te falar uma coisa importante... Jimmy – ela acrescentou para dar um ar mais carinhoso, mas sem muito sucesso.
                   Ele arqueou as sobrancelhas, subitamente pego pela surpresa, e deu de ombros.
                  - Tudo bem, mas se ficar com frio é só me falar meu amor... – ele já sorria meigamente, segurando a mão dela.
                  Por um instante Steve pensou em dar um murro na cara de Jimmy e gritar "Tá me estranhando cara? Meu negócio é outro, tá me achando com cara de maricas, é?". Mas isso não lhe pareceu algo que Gabrielle diria, porque ela gostava de garotos.
                   Então a suposta Gabrielle levou um Jimmy animado até o fim do corredor escuro, e pararam ali um de frente para o outro.
                   - Jimmy... Sabe de uma coisa? Eu queria muito te abraçar agora, estou precisando de um abraço... Minha vida anda meio complicada ultimamente... – ela suspirou dramaticamente, de um jeito que Gabrielle nunca faria.
                   - Quer que eu... Te... Te abrace? – Jimmy estava tenso e inseguro ao mesmo tempo, não entendendo completamente nada do que estava acontecendo – era sobre isso que queria falar quando pediu pra mandarem o recado?
                   - É... É sim. Preciso de alguém pra me confortar nessa fase difícil.
                  Steve era um garoto de muita força de vontade, fez um biquinho meigo e um olhar carente, se aproximando mais de Jimmy, até encostá-lo na parede. Sentiu nojo, mas se arrepiava só de pensar no que Chuck faria com ele se isso desse errado. Então olhou nos olhos do menino à sua frente e sussurrou:
                   - Só que como você sabe, eu sou uma menina inteligente...
                  Jimmy concordou rapidamente com a cabeça, não tirava os olhos dos dela, não sabendo onde colocar as mãos, se sentindo estúpido conforme elas pendiam ao lado de seu corpo.
                  - Então vou pedir pra você não contar isso pra ninguém, ou podemos nos meter num grande problema... – ela sorria maliciosamente, se divertindo com a expressão assustada de Jimmy, se aproximando mais até ter o corpo totalmente comprimido no dele – Se você me abraçar direito, eu prometo que você vai gostar do que está por vir...
                Gabrielle sussurrou realmente próxima aos lábios dele, mas sem tocá-los, apenas olhando-os como se fossem o que mais desejava na face da terra.
                Jimmy estava achando aquilo muito estranho, principalmente vindo de Gabrielle. O que estaria acontecendo? Devia tocar no assunto? Melhor não, ela estava linda... Talvez fosse melhor apenas concordar e fazer o que ela pedia: afinal, era bem simples, era só abraçar... Ela devia estar com frio, certo? Então ele a abraçou. Com força.
               Gabrielle passou a mão pelo peito dele lentamente, deslizando a mão por seu corpo trêmulo conforme descia, até os jeans do menino, de onde tirou sua varinha rapidamente e se afastou.
                - Mas o que...?
               Ela sorriu, como se soubesse de alguma piada particular que Jimmy não conhecia, e repentinamente, deu um gancho de direita diretamente em seu rosto. O sangue começou a espirrar pra todos os lados, manchando a neve antes imaculada que cobria o chão.
               Ele estava simplesmente aterrorizado: O que estava acontecendo? Que porcaria era aquela? Seu nariz ardia muito, a dor era muito forte e ainda mais intensa quando reforçada pelo frio, mas a curiosidade era maior. Colocou a mão sobre o nariz ensangüentado e observou Chuck e seus amiguinhos saírem das sombras.
                Chuck estava parado à sua frente ladeado pelos fiéis amigos, e uma Gabrielle corada de frio, portando sua varinha. Os rapazes possuíam sorrisos diabólicos, olhares sórdidos. Mas nada se comparava a Chuck: os olhos cinzas eram impenetráveis e cheios de pura maldade, não a maldade habitual com a qual andava por aí seduzindo as meninas ou lançando olhares de desprezo, era tanto prazer na situação do inimigo que chegava a ser físico, só de pensar no que estava prestes a fazer com Jimmy.
                - Meu querido James... – sua voz soava impiedosamente charmosa, ao mesmo tempo que dois de seus amigos cercavam Jimmy e o seguravam – estamos aqui para dar uma festinha.
                Brad se precipitou, um brutamontes, e estralou os dedos cruelmente, sorrindo para um Jimmy ensangüentado conforme acentuava o comentário de Chuck.
                 - E adivinhe só: Nós vamos dar o seu presente. Do jeito que você merece. Do jeito que eu prometi no corredor aquele dia.
                Jimmy não conseguia falar por causa do sangue em sua boca, escorrendo, manchando suas roupas, mas olhava para Chuck como se não acreditasse no que estava vendo.
               - Brad... – a voz do garoto era um sussurro prazeroso e letal – quer ter a honra de começar?
              Então eles jogaram Jimmy contra a parede e o espancaram. Chuck só ficou ali e observou, nunca sujaria as mãos num verme como James, nem mesmo as luvas caríssimas que costumava usar. Se conformou em vê-lo sangrar mais, e sentir a alegria se espalhar pelo corpo a cada soco.
               - Eu te disse James... – ele sorria triunfante a poucos centímetros do rosto de Jimmy, após uma pausa nos chutes, antes que James ficasse inconsciente – Eu sempre, sempre consigo o que quero. Você já devia ter aprendido...
               Chuck deu uma risadinha baixa e balançou a cabeça negativamente, como se achasse graça em ver o garoto ser torturado daquela forma.
               - Apaguem ele.